Arma Virumque Cano (Virgílio, Eneida, I, 1) | Grupo de Estudos de Psicanálise | Gep Rio Preto

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Arma Virumque Cano (Virgílio, Eneida, I, 1)

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Por MARCELO SALLES BUENO
Membro efetivo
Membro do Grupo de Estudos de Psicanálise de São José do Rio Preto e Região

 

“Canto as Armas e o Varão” (Virgílio, Eneida, I, 1)

 

 

Com esse primeiro verso, o poeta Virgílio (70 a.C) inaugura seu célebre épico, Eneida (I a.C), cantando os heroicos feitos de Enéias e a fundação de Roma. 


Sobrevivente da guerra de Tróia e perambulando pelas margens do mediterrâneo, Enéias carrega nas costas seu idoso pai Anquises, seguido por seu filho Ascânio. Seu pai leva consigo os Penates, deuses do lar, responsáveis pelo bem-estar e prosperidade das famílias. O herói grego passa por muitas adversidades até chegar na região do Lácio, atual Roma, e nessa região se estabelece, vindo a fundar a nova civilização. 


Na literatura clássica, Enéias representa a fundação de Roma, considerado o representante do início dessa civilização, aquele que deposita a pedra fundamental que daria origem à cultura e aos costumes ocidentais; o que cuida dos seus ascendentes e estimula seus descendentes a manter viva a tradição e sabedoria de seus antepassados com seu legado cultural. Não menos importante, Ascânio, seu filho, representa o porvir: a recepção da experiência transmitida por seus ascendentes.


Esse Épico é considerado um Clássico da literatura, porque abarca metaforicamente a sabedoria e a vivência que as antigas gerações pretendem transmitir: zelar pela história, cultura e aprender com a experiência dos anciãos. Passado, presente e futuro se encontram renovando a esperança de um novo mundo. Os Penates, carregados por seu pai Anquises, condensam os significados dos mistérios que atravessam centenas de gerações e apontam para o vir-a-ser.    


Essas são as “Armas e o Varão” que o poeta canta: os instrumentos que a sabedoria e a prática podem nos oferecer para que a humanidade usufrua de uma vivência mais integrada com o real que nos atravessa. 


Ao inaugurar o Instituto de Psicanálise de São José do Rio Preto e Região, é-nos oferecida a oportunidade de transmissão de um dos mais importantes legados da civilização: o conhecimento e o pensar. Na ausência desses instrumentos, restam-nos a repetição da estupidez, a dor e os escombros da alma. 


Fazer parte de um Instituto de psicanálise é mais que aprender sobre teorias e métodos ou ser detentor de um signo ou título. Tornar-se psicanalista é um compromisso com o mundo mental, sobretudo pessoal; é um processo de sucessivas transformações que podem capacitar seus postulantes a se tornarem o que há de mais difícil no aprendizado: tornar-se humanizado, dando, assim, significado de vida ao signo pretendido. 


Cantemos as Armas e aos Varões! 


E que nossos descendentes possam usufruir e transmitir o legado iniciado por civilizações tão antigas que nosso herói, Sigmund Freud, soube reunir, decodificar e criar, com sua genialidade, uma teoria e método capazes de diminuir o sofrimento humano e descobrir o herói que existe dentro de cada um de nós.  

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