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Transferência é um fenômeno universal. Ocorre em todas as relações humanas. Transferência é amor, não apenas o amor romântico, mas também todas as suas variações dramáticas, tais como: ciúme, inveja, ódio, paixão, dependências, diferenças e indiferenças. Transferência é a repetição, o transporte, a reatualização da história de nossos amores desde a mais tenra infância.
Quando Freud observou que comumente repetimos afetos, modalidades, demandas, identificações, padrões que constituíram nossas experiências amorosas do passado nas novas e atuais relações que estabelecemos, inclusive com o analista, descobriu uma forma de operar com a transferência, otimizando-a, transformando-a num importante instrumento para o trabalho analítico. Percebeu em seus pacientes que seus sentimentos e padrões de relacionamento não se referiam necessariamente a ele, mas eram transportados das primeiras relações com os pais, ou seja, continham e transportavam um concentrado das suas neuroses.
Assim, a Psicanálise, em seu trabalho investigativo de acesso ao inconsciente, por meio da técnica psicanalítica, utiliza a transferência, que possibilita a dissolução e libertação de repetidos padrões de transferências das relações primárias que nos aprisionam. Esta possibilidade de dissolução dos nós emocionais que nos prendem, este trabalho, esta técnica, esta arte abre inúmeras possibilidades transformadoras. Abre outros vértices de olhar para o passado, presente e futuro. Transforma, elaborando sentimentos que nos prejudicam e nos fazem sofrer.
A Psicanálise se utiliza do fenômeno da transferência para, e através do mesmo, conhecer e interpretar as fantasias de conflitos do inconsciente nele contidos e expressos, promovendo, no tratamento, a dissolução dos fenômenos transferenciais primários que adoecem nossos vínculos.
Esta ferramenta possibilita fazer lutos, elaborar e transformar sentimentos funestos, ampliando assim novas possibilidades de desenvolvimento e equilíbrio psíquico. Esse é um dos objetivos da análise, libertar o paciente dessas identificações e repetições transferenciais, liberando sua mente para viver a nova experiência como “nova”, porque ela o é, e usufruir do “bom”, se ela o contiver.
Eventualmente, a transferência pode, também, funcionar contra o desenvolvimento do processo analítico. O exemplo mais clássico disso, muito utilizado no cinema, teatro, literatura, artes em geral, é o amor apaixonado pelo analista. Porém, continuaremos a conversar sobre isso no sábado, dia 19/09, com Alírio Dantas e Ignácio Alves Paim em "Transferência: a clínica em movimento".
Até lá!